O fato: Em um salto de formação no norte de Queensland (Austrália), realizado a cerca de 15 mil pés, o cabo de acionamento do paraquedas reserva de um saltador ficou preso na aba lateral esquerda de um Cessna 208 Caravan. O reserva abriu de forma inesperada, arrastou o atleta contra o estabilizador horizontal (profundor) e o deixou pendurado na cauda da aeronave. O incidente foi registrado por câmeras de bordo e investigado pelo ATSB.
O vídeo mostra que, no momento da saída pela porta, a alça do reserva engancha na fuselagem, inflando o equipamento e tensionando linhas que enredaram-se na estrutura da cauda. Enquanto o piloto lutava para manter o controle diante da súbita perda de velocidade e do forte pitch-up, 13 dos 16 participantes completaram o salto; dois permaneceram a bordo para monitorar e um operador de câmera foi lançado, com lesão leve no ombro.
Análise técnica e educacional:
– Termos e componentes: a “alça do paraquedas reserva” corresponde ao mecanismo de acionamento do reserva (ripcord/handle). O “profundor” é o estabilizador horizontal que, neste caso, tornou-se ponto de engate das linhas e do tecido. “Pitch-up” descreve a atitude de nariz para cima da aeronave, típica quando há arrasto assimétrico ou perda súbita de velocidade.
– Mecânica do enredamento: o engate de uma alça externa com o equipamento de um saltador pode gerar forças consideráveis sobre a cauda, transferindo carga e alterando o equilíbrio longitudinal. Mesmo sem falha estrutural prévia, o aumento do arrasto e da mão de força sobre superfícies de controle exige correções imediatas do piloto para manter atitude e velocidade seguras.
– Ação do paraquedista: o atleta preso utilizou um hook knife (faca de gancho) para cortar mais de dez linhas do reserva e libertar-se o bastante para acionar o paraquedas principal. Esse procedimento foi decisivo para a sobrevivência. O uso de um hook knife é frequentemente recomendado em operações de salto, pois permite cortar linhas tensionadas em situações de enredamento.
– Procedimentos de voo: no cockpit, o piloto detectou a desaceleração e a alteração de atitude, declarou emergência e retomou para pouso no Aeroporto de Tully. A decisão de não ejetar e de priorizar o controle da aeronave e o retorno para solo revela aderência a prioridades básicas de aviação: estabilizar a aeronave, declarar emergência e buscar um pouso seguro.
– Fatores humanos e operacionais: a investigação do ATSB apontou falhas nos procedimentos de peso e balanceamento do clube operador (Far North Freefall Club). Embora não tenha sido apontado como causa direta do enredamento, o episódio reforça a importância de checagens rigorosas de carga, posicionamento e briefings específicos para saltos em formação e com grande número de praticantes.
Impacto e lições para a comunidade de aviação brasileira:
– Para pilotos e instrutores: revisar procedimentos de decolagem com cargas externas (saltadores), entender como arrasto e assimetrias afetam a atitude e desempenho, e manter comunicações claras com a equipe de salto. Em emergências com objetos presos externamente, priorize controle da aeronave e estabelecimento de condição de vôo segura antes de outras ações.
– Para estudantes e operadores de paraquedismo: tornar obrigatória a portabilidade e o treinamento no uso de ferramentas de corte (hook knife) durante briefing pré-salto; treinar cenários de enredamento em simuladores legais e exercitar tomadas de decisão sob pressão.
– Para mecânicos e responsáveis por aeronaves: inspecionar portas, alças e pontos de fixação, avaliar possíveis trajetórias de linhas e tecidos em operações de salto e assegurar que o manual de operações e o manifesto de carga reflitam corretamente o arranjo de saltadores a bordo.
– Para reguladores e treinamento: o episódio reforça a necessidade de integrar temas como segurança de operações com paraquedistas nos currículos e normativas. No Brasil, órgãos como a ANAC e o conjunto de regras (RBAC) devem ser referência para exigências mínimas; instrutores e escolas precisam sempre vincular teoria e prática em treinamentos focados em Segurança de Voo.
Recomendações práticas:
- Impor checklist de posição e balanceamento específico para voos de salto em formação.
- Tornar obrigatório o porte e o treinamento de uso de hook knife para todos os saltadores.
- Incluir cenários de enredamento nas simulações de emergência e nos briefings pré-salto.
- Manter procedimentos sólidos de comunicação entre piloto, manifestante e líderes de formação.
O episódio australiano é um caso extremo, mas educativo: a combinação de treinamento, calma sob pressão e equipamentos adequados transformou uma situação potencialmente fatal em um pouso com ferimentos leves. Instrutores e operadores devem usar o material do ATSB como estudo de caso para reforçar práticas seguras.
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